terça-feira, 20 de outubro de 2009

historia do brasil

O Governo Dutra (1946 – 1951)

Para as eleições de 1945 foram criados alguns partidos ampliando o leque de opções partidárias que passou a refletir com um pouco mais de fidelidade a realidade política brasileira. Vejam quais os principais partidos desta época;
 PCB (Partido Comunista do Brasil) – como o próprio indica era um partido de esquerda formado principalmente por trabalhadores urbanos, profissionais liberais e intelectuais.
 PSD (Partido Social Democrático) – formado a partir do apoio dos interventores varguistas, seu principal apoio estava nas classes médias, intelectuais e pequenos proprietário rurais.
 PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) – também criado com forte influência de Vargas, tinha como principal base os trabalhadores sindicalizados da indústria que surgia com força naquele período.
 UDN (União Democrática Nacional) – pregando o ideário liberal, era formado pelos grandes proprietários rurais e grandes empresários. Era uma forte oposição ao modelo de Estado implementado por Vargas.
Na disputa entre estes partidos surgiu vitorioso Eurico Dutra, eleito pelo PSD e apoiado pelo PTB (o apoio de Vargas nestas eleições se manteve estrategicamente discreto à eleição de Dutra). Logo a seguir foi eleito também o Parlamento que seria responsável pela configuração da Nova Constituição Nacional.

A NOVA CONSTITUIÇÃO DE 1946

Instalada em 2 de fevereiro de 1946, a Assembléia Nacional Constituinte era formada pelos representantes de todos os partidos acima, inclusive o PCB, que elegeu como senador Luís Carlos Prestes. Em 18 de setembro de 1946 era promulgada a nova Constituição cujos pontos principais eram:
 restabelecimento da democracia, assegurando mandato presidencial de 5 anos,
 eleições diretas e voto secreto para maiores de 18 anos (os analfabetos continuavam excluídos da cidadania eleitoral)
 a manutenção de inúmeros direitos trabalhistas conquistados ao longo da Era Vargas.

No início de seu Governo Dutra implementou uma política liberal, pregando a não intervenção do Estado na economia e a liberdade de ação para o capital estrangeiro. Ao final de dois anos de governo, sua política econômica evidenciava sinais negativos, fazendo crescer a inflação e a dívida externa. Por exemplo, em um ano de liberação cambial, o presidente esgotou as nossas reservas cambiais.
A partir de 1947, quando se iniciou a Guerra Fria, Dutra adotou uma postura de alinhamento incondicional aos EUA. Tal postura se refletiu internamente com o enrijecimento do Governo. NO plano político, romperam-se as relações com a URSS, além de reprimir a atuação dos sindicatos e de ter posto o PCB novamente na ilegalidade (Luís Carlos Prestes foi preso neste momento). Já no pelo lado econômico, passou a buscar maior intervenção do Estado através do fracassado Plano SALTE (preocupação do Estado com o investimento nas áreas da Saúde, Alimentação, Transporte e Energia).
Na verdade o Brasil não assistiu ao desenvolvimento de uma democracia, pois a legalidade imposta ao Partido Comunista, bem como a manutenção do aparelho policial e o rompimento das relações diplomáticas com a União Soviética, atestam uma prática antidemocrática do Governo Brasileiro no período de Dutra, que na realidade entrou e saiu deixando muito pouca herança a não ser problemas de âmbito político, econômico e social. Era tempo de substituí-lo.

2o. Governo Vargas (1951 – 1954)

Não foi difícil para Getúlio convencer o eleitorado de que ele era a solução. Setores dissidentes (maioria) do PSD e todo o PTB apoiaram a candidatura do "pai dos pobres", como era conhecido Getúlio, que derrotou Eduardo Gomes (UDN) e Cristiano Machado (candidato oficial do PSD, sem apoio do próprio partido, além de não ter a mínima expressão política).
As marca do governo Vargas são, indiscutivelmente, o populismo e o nacionalismo. Getúlio buscou:
• No plano interno, desenvolver uma indústria nacional, através de um acúmulo de capital. Ignorando a disputa inerente na relação capital – trabalho, se pôs neste meio, sempre pendendo mais para sua base de apoio, os trabalhadores; Era o populismo bastante acentuado.
• No plano externo, criar uma economia independente do capitalismo internacional, agora sob a liderança norte-americana. Era o nacionalismo se destacando.
Nacionalismo – veja algumas medidas do Governo Vargas:
 Lei de Remessas de Lucro, aprovada em 1952: esta lei obrigava as empresas multinacionais a reinvestirem no mínimo 10% de seu lucro líquido. Isto se deu pois Getúlio denunciou a espantosa remessa de lucros das empresas estrangeiras para suas matrizes, uma terrível sangria para a economia nacional.
 Vargas realizou a expansão da Siderúrgica Nacional;
 criação da hidrelétrica de Paulo Afonso,
 fundação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE),
 a tentativa de criação da Eletrobrás, etc.
 Em 1953, surge a Petrobrás, frustrando as multinacionais do petróleo em explorar o combustível fóssil do nosso solo e não obstante as crescentes pressões do governo norte-americano.

A partir de 1953, o ritmo da industrialização nacional entrou num impasse: para crescer precisava de recursos, internos e externos. Internos, com a expansão do crédito, financiamento, arrocho salarial e, infelizmente, inflação. Externamente, com a facilitação das importações, redução das taxas de câmbio e aproximação dos EUA. Se por um lado isso beneficiava a burguesia industrial e a agricultura agroexportadora (a elite dominante), por outro prejudicava sobremodo a classe média, as massas operárias e o povo em geral (a maior base de apoio de Vargas). Dessa maneira, em função do arrocho salarial e da inflação alta, os trabalhadores, desrespeitando o pacto de aliança com o governo, entraram em greve geral durante 29 dias. Trezentos mil operários paulistas exigiam aumento salarial. O temor da classe dominante era que Vargas perdesse o controle do movimento sindical, e além disto, que o comunismo se tornasse vitorioso em algum momento.

CRISE NO TRABALHISMO E POPULISMO

Em 1954, Goulart, Ministro do Trabalho, propôs o aumento do salário mínimo em 100%, o que escandalizou a burguesia industrial. O governo recuou diante das pressões e, por um lado, a oposição passou a explorar ao máximo as fragilidades do Governo, e por outro, os trabalhadores romperam de vez com o Governo. Percebam como se desenhava a oposição a Vargas:
 A UDN fazia uma oposição estrondosa principalmente na figura de Carlos Lacerda, hábil político e orador, dono do jornal Tribuna da Imprensa, o qual utilizava para atacar o Governo;
 O empresariado e os ricos proprietários de terras temiam cada vez mais uma “esquerdização” do Governo, que se colocava muito próximo aos trabalhadores;
 Os militares reforçavam o eco anti-getulista por temerem a “perda do controle” e o fortalecimento do comunismo, em função das inúmeras greves e manifestações que agitavam o país naquela época;
 Os próprios trabalhadores, forte base de apoio de Vargas, se mostrava indignada com o arrocho salarial e a alta inflação, e passou a fazer grandes greves enfraquecendo politicamente Vargas. O “pai dos pobres” já não era mais tão pai assim.

Seu Governo e vida chegaram ao fim em 1954, quando homens de sua guarda pessoal contrataram pistoleiros para eliminar o jornalista da oposição, Carlos Lacerda, e estes mataram por engano um major da Aeronáutica. Este fato passou a ser a “gota d’água” para o fim do Governo Vargas, que já não mais se sustentava em pé. O problema é que o fim deste Governo teve um final inesperado: muito atacado pelos opositores e diante do ultimato de renúncia feito pelas Forças Armadas, Getúlio Vargas suicidou-se com um tiro no peito na madrugada de 24 de agosto. A carta-testamento que deixou foi transformada em programa político pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), influiu na eleição de JK pela coligação PTB/PSD e manteve a chama do nacionalismo petebista até o golpe militar de 1964.
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Com seu suicídio Vargas reverteu o quadro de descrença na sua imagem para uma situação de aclamação popular muito grande, principalmente em função de sua carta-testamento. Era côo se o povo perdesse o seu “pai”. A revolta popular na época foi muito grande. Só para se ter uma idéia, o Jornal de Carlos Lacerda foi incendiado após o enterro de Vargas, houve muito “quebra-quebra” no Rio e o próprio prédio da Aeronáutica foi atacado. Estava óbvio que o próximo candidato que se aproximasse do ideal varguista de condução do País, seria eleito.

ENTRE VARGAS E JK (1954 – 1955)

Com a morte do Presidente a UDN viu a possibilidade de chegar ao poder por meio do Vice-presidente Café Filho, que assumiu o governo em 24 de agosto de 1954, porém sem a menor legitimidade. A pressão populista era tão grande que Café Filho acabou adoecendo, e foi, em 8 de novembro de 1955, substituído por Carlos Luz (Presidente da Câmara dos Deputados), também ligado às forças udenistas.
O período da UDN no poder foi pouco pois nas eleições de 1955 Juscelino Kubitschek de Oliveira (governador de Minas Gerais) venceu, derrotando Juarez Távora (UDN, o ex-tenente, Ademar de Barros (Partido Social Progressista de São Paulo) e Plínio Salgado (ex-AIB, agora PRD). O Vice de JK era João Goulart, conhecido como Jango. A populismo, então, mostrava sua força.

O ESBOÇO DO GOLPE DE 1964

A Suspeita de Golpe - A UDN, derrotada, logo exigiu para a posse dos eleitos a maioria absoluta dos votos o que não constava na Constituição. Depois, vendo a temeridade dos argumentos, conclamou setores mais conservadores das Forças Armadas a impedir a posse de JK e Jango sob a alegação de que ambos estavam ligados ao populismo e, portanto, fariam o país retornar ao caos de 1954. Carlos Lacerda, jornalista e deputado pela UDN, era o grande mentor desta proposta golpista. Além disso, "os eleitos tiveram apoio dos socialistas e comunistas", argumentava a UDN, repetindo velhas cantigas para "defender a democracia".
O Golpe Preventivo - Entretanto, o Ministro da Guerra, o marechal Henrique Teixeira Lott, resolveu dar um golpe preventivo a fim de garantir a posse de JK. Carlos Luz foi declarado impedido (11 de novembro de 1955) de exercer a presidência; Café Filho, que já se havia restabelecido, foi feito prisioneiro em sua própria casa; assumiu Nereu Ramos, então Vice-presidente do Senado, que se comprometeu a empossar os eleitos (1º. de janeiro de 1956). O populismo venceu mais uma vez, contudo suas contradições se aprofundavam. JK seria o último civil eleito diretamente a cumprir inteiramente seu mandato presidencial até a década de 90.


O Governo JK (1956 – 1961)

O populismo e o Estado desenvolvimentista mostravam que ainda tinham muita força junto à sociedade: em 31 de janeiro de 1956, Juscelino Kubitschek e João Goulart tomavam posse como presidente e vice, respectivamente. Funcionava mais uma vez a aliança PSD-PTB, que acabou dando uma base importante para a governabilidade de JK. As reações inesperadas com o suicídio de Vargas e o golpe fracassado antes da posse de JK fizeram com que as forças conservadoras, ou seja, a UDN e os militares, se acalmassem assistindo os desdobramentos do jogo democrático.
Para entender o Governo JK é fundamental saber como foi a base de sua política-econômica, que, embora fosse marcada pela intervenção econômica e planejamento estatal (seguindo o que já vinha acontecendo), no que se refere ao capital privado nacional e internacional se diferenciou bastante de Vargas.

Principais características do Governo JK:
 Planejamento econômico, cujo maior exemplo foi o Plano de Metas;
 Intervenção do estado na economia, gerando o desenvolvimentismo;
 Abertura econômica para a participação do capital estrangeiro;
 Criação de Brasília, Usiminas e Cosipa, início da construção das usinas de Furnas e Três Marias;
 Criação da SUDENE (Superintendência para Desenvolvimento do Nordeste).



O Governo JK marca a retomada do nacional-desenvolvimentismo, interrompido coma morte de Vargas. Este período foi caracterizado por um forte planejamento econômico a partir do gerenciamento do Estado, portanto, não era um modelo político-econômico liberal, mas sim de intervenção estatal, mesmo aceitando a participação do capital estrangeiro com muito maior liberdade que no Governo Vargas. Um dos exemplos do planejamento estatal é o famoso Plano de Metas.
PLANO DE METAS

O Plano de Metas era muito bem sinalizado no slogan “50 anos em 5” que representava o crescimento que o Brasil atingiria ao final do Governo JK se conseguisse cumprir as metas estabelecidas pelo Estado. Estas metas se resumiam em cinco campos: energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação. As duas primeiras metas eram o eixo do plano, que não obteve o sucesso esperado nas metas de agricultura e educação.
Vale ainda lembrar que foi no Governo JK que se deu a construção de Brasília, porém, ao contrário do que muitos acreditam, a nova capital não fazia parte do Plano de Metas, embora um empreendimento tão grande como este, também tenha sido importante para o desenvolvimentismo. A intenção com a construção de Brasília (inaugurada em 21 de abril de 1960) era a de leva o desenvolvimento econômico para o Interior do País e também isolar o epicentro do poder político brasileiro até então localizado no Rio de Janeiro.
Sua gestão foi marcada pela participação extensiva do capital estrangeiro na economia brasileira (por exemplo, a entrada no País das grandes multinacionais automobilísticas). Foi um período de forte expansão industrial. Entre 1955 e 1961, a produção industrial cresceu 80%. Entre 57 e 61, a taxa real de crescimento atingiu 7% ao ano.
Porém, paralelo ao desenvolvimento industrial, JK recorreu várias vezes à emissão de dinheiro, jogando o país numa inflação crescente. Essa medida, que visava atender às reivindicações salariais e às solicitações de créditos, jogou o país em índices inflacionários nunca vistos. Portanto, se por um lado o Governo JK gerou desenvolvimento ao País, por outro foi responsável por um endividamento externo muito grande e por uma inflação alta, que corroia o poder de compra dos salários. Num jogo de cena, pois JK ambicionava retornar à Presidência nas eleições de 1966, no final do mandato (1960) o Governo rompeu com o FMI, alegando que não aceitava suas imposições para novos empréstimos. Na realidade deixou o problema para o seu sucessor, saindo com a imagem de defensor dos interesses nacionais.

O Governo Jânio Quadros (1961)

Político irreverente e bastante hábil em oratória e na capacidade de aproveitar o momento certo, Jânio quadros focalizou dois graves problemas do governo JK para fazer sua campanha política que lhe fez vitorioso.
Político conservador, foi eleito pela União Democrática Nacional (UDN) e Partido Democrático Cristão (PDC). Durante a campanha, Jânio conseguiu conquistar uma legião de admiradores com um discurso populista e marcadamente moralista. Apresentava-se como o "homem do tostão contra o milhão" que iria "sanear" a nação. O seu símbolo preferido era a vassoura e o jingle "Varre, varre vassourinha/ Varre, varre a bandalheira/ O povo já está cansado/ De viver dessa maneira". Em outubro de 1960, Jânio recebeu uma das mais expressivas votações da história: teve 48% dos votos (6 milhões de votos). Sua vitória, graças a desvinculação dos votos, foi marcada pela eleição de Jango, da chapa do general Lott, como vice-presidente.
Mostrando-se despreparado para exercer a presidência do País e sem a capacidade de formulação de um plano efetivo para resolver os problemas a que se propunha solucionar, Jânio se perdeu em suas próprias atitudes. Confira o desenrolar de seus passos confusos:
 comunicava-se politicamente através do envio de centenas de "bilhetinhos" aos ministros e assessores (mais de 2 mil em 206 dias de trabalho).
 proibiu a propaganda em cinemas, regulamentou os horários e as normas do jogo de cartas em clubes e a participação de crianças em programas de TV e rádio.
 mostrando seu lado conservador e autoritário, reprimiu os movimentos camponeses, os movimentos estudantis e controlou o funcionamento dos sindicatos.
 no plano externo, de forma imcompreensível, reatou as relações diplomáticas e comerciais com o bloco comunista, desagradando o Governo Norte-Americano. Além disto condecorou “Che” Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul, maior comenda nacional, e recebeu Fidel Castro que acabara de fazer a Revolução Cubana.
 a sua política econômica era repleta de medidas impopulares tais como congelamento dos salários, restrição de créditos, corte de subsídios federais, desvalorização do cruzeiro gerando protestos por parte dos empresários e operários.
 reatou as relações diplomáticas com a URSS, enviou missões comerciais à China Comunista e à África

Jânio governava sem base política: PTB e PSD, que eram oposição, dominavam o Congresso, Carlos Lacerda, que o apoiava, passara para a oposição, Jânio não consultava a UDN e o país estava endividado. O Governo prometia uma política econômica rígida para combater a inflação, com uma postura moralista garantia combater a corrupção e a especulação, mas não conseguia mostrar resultados práticos.
Os protestos contra Jânio Quadros começam a se intensificar, sendo até chamado de comunista por ter condecorado Ernesto Che Guevara e de estar tramando um regime igual ao Cubano para o Brasil, denúncia esta feita por Carlos Lacerda. A 24 de agosto de 1961, Lacerda fez um discurso no rádio denunciando uma suposta tentativa de golpe articulada por Jânio. No dia seguinte (25 de agosto), após quase sete meses no governo, o primeiro presidente a tomar posse em Brasília estarrecia a nação ao anunciar sua renúncia, por não agüentar o peso das pressões. Alegou que "forças terríveis" ("forças ocultas") levantaram-se contra ele.
A única explicação aceitável para a renúncia é a de que Jânio, não tendo maioria no Congresso e capacidade para levar adiante suas promessas de campanha, não suportou governar limitado pelo parlamento. Sabendo da aversão dos militares pelo vice-presidente João Goulart, imaginou que haveria em vazio no poder e que a sua recondução à presidência com amplos poderes constitucionais seria uma questão de tempo. Não foi o que aconteceu.

O Governo João Goulart (1961 – 1964)

João Goulart, vice de Jânio, muitas vezes acusado por militares e udenistas de “esquerdista”, “comunista”, “populistas”, entre outros, estava em visita à China Comunista. Embora se tratasse de uma visita oficial, eram tempos de guerra fria e Jango sempre fora visto como o "líder da república sindicalista", um “comunista travestido de democrata”, ou seja, uma ameaça. O próprio Jânio parecia compartilhar dessa opinião ao tentar o blefe da renúncia por achar que nem os militares nem o Congresso entregariam o país "a um louco que iria incendiá-lo".
Jânio Quadros não voltou, mas de fato as forças conservadoras (ministros militares e políticos da UDN, principalmente) não permitiram que João Goulart assumisse a presidência da República. A intenção era que os militares assumissem a presidência, com a desculpa de garantir a “ordem”!!!
CAMPANHA DA LEGALIDADE

Porém, além do Congresso (cuja maioria era formada pelo PSD e PTB) se negar a vetar a posse de Jango, o governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola com o apoio do 3º Exército (com sede no RS), declarou-se disposto a pegar em armas para garantir o cumprimento da Constituição. Diziam-se dispostos a lutar pela legalidade constitucional e dar posse ao Presidente legitimamente eleito pelas urnas, Jango.
Para que não houvesse uma guerra civil, a solução encontrada para resolver o impasse veio através da iniciativa do Deputado Plínio Salgado ao enviar ao Congresso Nacional a emenda constitucional que estabelecia o Sistema Parlamentarista no Brasil.

O PARLAMENTARISMO (1961 – 1963)

A crise foi contornada com a criação de uma comissão no congresso que propôs a diminuição dos poderes do presidente e a adoção de um regime parlamentarista de Governo, em que se tirava o centro do poder das mãos do Presidente e passava-o para o primeiro-ministro, cujo controle se mostrava mais fácil. Assim sendo, depois de tortuosa viagem de volta, Jango chegou ao Brasil em 31 de agosto de 1961 e, no aniversário da Independência (07 de setembro de 1961), tomou posse em Brasília como Chefe de Estado, mas não como Chefe de Governo, como deveria se o regime fosse presidencialista. A situação estava parcialmente resolvida.
Porém, a insatisfação popular com o encaminhamento político durante o parlamentarismo, e a força de Jango junto às camadas mais baixas da população em função da herança varguista, fizeram com que surgisse a campanha pelo plebiscito em 1962, para que o povo decidisse se permaneceria o parlamentarismo ou se retornaria o presidencialismo, com Jango como presidente. Em janeiro de 1963, o plebiscito deu ampla vitória ao presidencialismo (9 milhões de votos) sobre o parlamentarismo (2 milhões). E Jango virou presidente de verdade.

JOÃO GOULART NA PRESIDÊNCIA (1963 – 1964)


Quando o Brasil retornou ao Presidencialismo, a oposição passou a atuar com extrema violência, protegida pela burguesia industrial, financeira e comercial. O fato de se tornar presidente com seus plenos poderes restaurados não trouxe tranqüilidade para Jango. Ele assumia a chefia de um país cada vez mais polarizado, volátil e inquieto. Era constantemente cobrado pela esquerda (Brizola, Miguel Arraes e Francisco Julião), que queria reformas imediatas, e pela direita (Carlos Lacerda, Olimpio Mourão e Costa e Silva), que temia qualquer avanço social. A esquerda achava Jango um "frouxo", e a direita um "incendiário".
O ano de 1963 foi considerado muito difícil para o Presidente Goulart. Houve o aumento do custo de vida e o fato de o governo norte-americano não aceitar mais renegociar a dívida externa. De janeiro a julho de 1963, sob o comando do ministro Celso Furtado, Goulart pôs em prática o Plano Trienal que colocava como prioridade:
 1 - As reformas de base (Administrativa, Bancária, Tributária, Agrária e Urbana);
 2 - Limitação ao aumento do funcionalismo público;
 3 - Limitação ao aumento das forças armadas;
 4 - Promover a entrada de capitais estrangeiros.

O Plano de Celso Furtado foi bastante criticado pelos setores de esquerda, pois se enquadravam dentro das reformas capitalistas e pela direita que acreditava que era um plano muito radical. O Plano foi abandonado e o Governo passou a adotar medidas mais radicais, como o Projeto de Reforma Agrária e a nacionalização das refinarias de Petróleo, a criação da Eletrobrás e a Lei que regulamentava a remessa de lucros para o exterior.
Dois acontecimentos foram a “gota d’água” para o golpe militar: o primeiro foi a anistia dada aos marinheiros, cabos e sargentos que aderiram ao levante de sargentos da Marinha e Aeronáutica, exigindo maior participação política, contrariando a hierarquia militar que pedia a condenação dos responsáveis. Já o segundo foi o Comício da Central, do dia 13 de março de 1964, onde Goulart falava da Reforma Agrária e Urbana e Nacionalização das refinarias.
No dia 31 de março iniciou-se o movimento para o Golpe. As tropas comandadas por Mourão Filho vieram em direção ao Rio de Janeiro, enquanto as do General Guedes avançaram contra Brasília e os oficiais fiéis ao Presidente não tiveram condições de reagir. Diante disso, João Goulart foi para Porto Alegre, saindo do país e asilando-se no Uruguai. Iniciava-se um longo período de terror, marcado pela mais violenta ditadura da nossa história. Começavam os "ANOS DE CHUMBO".
Jango foi visto como representante do perigo comunista e deposto em março de 1964.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

terça-feira, 23 de junho de 2009

desafio rápido

1)       Ao longo do século XIX é possível identificar algumas tentativas de integração européia, que não alcançaram grande repercussão. A idéia de uma Europa unida estava ainda distante. Segundo Bismark, Chanceler da Prússia e depois da Alemanha, "quem fala de Europa, se equivoca. Noção geográfica... ficção insustentável."

Contudo, na segunda metade do século XX, se fortaleceu a proposta de uma maior integração econômica e política do continente, com a assinatura do Tratado de Roma e a constituição da comunidade Econômica Européia (CEE).

Explique o pensamento de Bismarck, exposto acima, relacionando-o à Unificação Alemã.

 

2) Referindo-se aos acontecimentos ocorridos em Paris no ano de 1871, assim se expressou um militante socialista: "Eis o que significaram os acontecimentos de 18 de março. Eis por que esse movimento é uma revolução, eis por que todos os trabalhadores o reconhecem e aclamam".

 

a) A que movimento político a citação faz referência?

 

b) Explique o que foi esse movimento.

 

c) Qual foi sua importância para o movimento socialista até o período inaugurado com a Revolução Russa de 1917?

terça-feira, 2 de junho de 2009

propaganda interessante

as revoluções inglesas

1) UniRio
Durante a Revolução Inglesa, no contexto da República de Cromwell, surgiram dois movimentos radicais ligados ao chamado "Exército de Novo Tipo", os quais foram denominados de levellers (niveladores) e diggers (cavadores). Embora ligados a uma "nova ideologia popular" da revolução, esses grupos se diferenciavam no tocante às suas reivindicações, sendo correto afirmar que os:
a) diggers eram considerados moderados por serem contrários à liberdade religiosa e limitavam-se a defender a igualdade jurídica.
b) diggers opunham-se à propriedade particular do solo e defendiam a posse comunitária das terras da Coroa e dos terrenos ociosos.
c) levellers eram conhecidos como grupo radical por defenderem o sufrágio universal e a ocupação à força das terras ociosas.
d) levellers eram contra a liberdade religiosa por acreditarem que a religião era um obstáculo à realização de uma verdadeira transformação revolucionária.
e) levellers e os diggers eram favoráveis à continuidade da política dos Enclousures, por acreditarem no seu caráter de democratização de acesso à terra.
2) Analise as afirmações a seguir acerca da Revolução Inglesa do século XVII.

I. Significou o rompimento com um passado pré-industrial e a construção de um modelo econômico baseado na exportação de capitais para as nações menos desenvolvidas.
II. Representou a instalação de uma ordem política marcada pela destruição do absolutismo monárquico e pela afirmação de um regime dominado pela burguesia.
III. Manifestou, com a Revolução Gloriosa, a constituição de uma aliança entre a monarquia parlamentar e os interesses da burguesia inglesa.

Assinale a alternativa correta.
a) Somente I e II são verdadeiras.
b) Somente I e III são verdadeiras.
c) Somente II e III são verdadeiras.
d) Somente I é verdadeira.
e) Somente III é verdadeira.
3) A REVOLUÇÃO GLORIOSA, ocorrida na Inglaterra entre 1688 e 1689, interrompeu o reinado de Jaime II e colocou no trono inglês um príncipe de Holanda, Guilherme de Orange. Entre os fatores que levaram à revolução estão as lutas entre o poder real e o parlamento, a necessidade de superação do absolutismo e lutas religiosas. Aponte os principais reflexos da REVOLUÇÃO GLORIOSA em termos de transformação política e econômica da Inglaterra e do mundo como um todo.
4)Unicamp    
A Revolução Gloriosa selou um compromisso entre a burguesia e a nobreza proprietária de terras, fortaleceu o Parlamento, e criou condições favoráveis ao desenvolvimento econômico inglês e à instauração do capitalismo industrial na Inglaterra.

a) Explique os interesses dos seguintes sujeitos sociais na Revolução Inglesa: monarquia, nobreza e burguesia.
b) De que maneira a Revolução Inglesa contribuiu para fazer da Inglaterra a maior potência econômica da época?

domingo, 24 de maio de 2009

Desafio 2 - discursiva - específica

1) UFF
Existem dúvidas em torno da caracterização do Estado Absoluto em França, na época de Luis XIV. O empenho do rei em associar a França aos Tempos Modernos, promovendo o progresso e transformando o país em modelo de civilização, embaralha a definição do seu reinado e dificulta sua inclusão na idéia de Antigo Regime.

Com base no texto, caracterize o Antigo Regime francês nos níveis político, econômico e social.

2)UFV

Jean Jacques Rousseau, escritor francês do século XVIII, no famoso ensaio "Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens", publicado em 1754, escreveu: O primeiro homem que cercou uma porção de terra e disse: isto é meu, e encontrou gente suficientemente tonta para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador do Estado.

Com essa frase, Rousseau ampliava uma nova forma de explicar a gênese do Estado, relacionada à propriedade privada. No entanto, até então, vigorava uma outra concepção a respeito da origem do Estado. Explique-a, considerando suas principais características e conseqüências.

3)Unicamp

Na emissão de suas primeiras moedas, os EUA decidiram pelo uso de símbolos como a corrente, a águia, as estrelas e a imagem de uma mulher representando a Liberdade. Decidiu-se diferenciar o dólar americano de outras moedas, como as inglesas que traziam o retrato do monarca George III. (Adaptado de Jack Weatherford, "História do Dinheiro". São Paulo: Negócio Editora, 1999, p. 123-4).

a) O que essa primeira emissão de moedas simbolizava?
b) Mencione dois motivos centrais da disputa entre a Inglaterra e sua colônia na América que resultaram na independência dos EUA.

c) O dólar tornou-se um padrão monetário internacional ao final da Segunda Guerra Mundial. O que isso significou?

4) UFF

Christopher Hill, historiador inglês especializado no século XVII, ao examinar a sociedade e a política inglesa do período, denominou-o século da revolução. Sabe-se que esta revolução a que se refere o autor foi modificadora não somente do perfil da sociedade mas contribuiu, com seus reflexos, para a transformação da Inglaterra e do Novo Mundo.
A partir da referência apresentada, responda:

a) Qual a instituição inglesa, organizada em duas câmaras, que representava os interesses da sociedade, dificultando a ação centralizadora dos monarcas?

b) Quais as conseqüências do processo revolucionário inglês na ocupação do território norte-americano e qual o papel dessa ocupação no movimento de independência dos Estados Unidos?

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Enem 2009 - você não tem nada a perder!

Pare de ler besteira. Vá direto à fonte oficial para tirar suas dúvidas:

http://www.enem.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=83&Itemid=125


Saiba quais são as instituições do Sudeste que aderiram e como:

http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL1161690-5604,00-MEC+ATUALIZA+BALANCO+DE+INSTITUICOES+QUE+VAO+ADERIR+AO+ENEM.html


quinta-feira, 14 de maio de 2009

desafio - discursiva - específica

1)
Jan Huss (1370 – 1415) foi um padre que se preocupou em traduzir o texto bíblico em outras línguas e denunciou o comportamento dos clérigos católicos. A pregação por ele empreendida, ao longo da Boêmia, motivou a violenta reação das autoridades do Sacro-Império Germânico que ordenaram sua morte pela fogueira. A morte de Huss deu origem a um movimento popular conhecido como hussismo. A grande maioria de seus integrantes eram camponeses pobres insatisfeitos com sua condição de vida. 

O movimento renascentista também deu passos importantes no questionamento do papel exercido pela Igreja Católica.
a)    Explique a afirmativa acima, deixando claro na sua resposta o nome de dois renascentistas ligados às ciências que tenham fortalecido os “passos” acima mencionados.

b)    Um folósofo do século XIX, Max Weber escreveu um livro cujo título é “A ética protestante e o espírito do capitalismo”.

Explique o sentido dado pelo autor neste título.

2) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Este documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios da nobreza, mas não um manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária. "Os homens nascem e vivem livres e iguais perante as leis", dizia seu primeiro artigo; mas ela também prevê a existência de distinções sociais, ainda que "somente no terreno da utilidade comum". A propriedade privada era um direito natural, sagrado, inalienável e inviolável. Os homens eram iguais perante a lei e as profissões estavam igualmente abertas ao talento; mas, se a corrida começava sem empecilhos, pressuponha-se como fato consumado que os corredores não terminariam juntos. A declaração afirmava (posição contrária à hierarquia da nobreza ou absolutismo) que "todos os cidadãos têm o direito de colaborar na elaboração das leis"; mas "tanto pessoalmente como através de seus representantes". E a assembléia representativa que ela vislumbrava como o órgão fundamental de governo não era necessariamente uma assembléia democraticamente eleita, tampouco, no regime que estava implícito, pretendia-se eliminar os reis.
    (Eric Hobsbawm)

a) Explique o contexto histórico em que se produziu a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e, estabeleça uma relação entre o texto e a classe social que o autor defende como beneficiada na Revolução?


b) Explique porque o texto apresenta uma idéia paradoxal de democracia.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Concilio di trento

Calvino


Lutero


John Hus

95 Teses de Lutero

Amen.    
Com um desejo ardente de trazer a verdade à luz, as seguintes teses serão defendidas em Wittenberg sob a presidência do Rev. Frei Martinho Lutero, Mestre de Artes, Mestre de Sagrada Teologia e Professor oficial da mesma. Ele, portanto, pede que todos os que não puderem estar presentes e disputar com ele verbalmente, façam-no por escrito. 

Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Amém.
    1. Ao dizer: “Fazei penitência”, etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência. 
     2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes). 
     3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne. 
    4. Por conseqüência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus. 
    5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones. 
6. O papa não tem o poder de perdoar culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe são reservados. Se ele deixasse de observar essas limitações, a culpa permaneceria. 
7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.
8. Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.
    9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade. 
    10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório. 
    11. Essa cizânia de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam. 
    12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição. 
    13. Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas. 
14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor. 
    15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero. 
     16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança. 
    17. Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror diminua na medida em que cresce o amor. 
    18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontrem fora do estado de mérito ou de crescimento no amor. 
    19. Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza disso. 
    20. Portanto, por remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs. 
    21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa. 
    22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida. 
    23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos. 
24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena. 
    25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular. 
    26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão. 
27. Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu]. 
    28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa [1] , pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus. 
    29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas, como na história contada a respeito de São Severino e São Pascoal? 
30. Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão. 
    31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo. 
    32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência. 
    33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Ele. 
34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos. 
35. Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutrinas incompatíveis com o cristão. 

36. Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência. 
37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.
38. Contudo, o perdão distribuído pelo papa não deve ser desprezado, pois – como disse – é uma declaração da remissão divina [2] .
39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição. [3] 
40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, ou pelo menos dá ocasião para tanto. [4] 
41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor. [5] 
42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.
43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências. [6] 
44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena. 
45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus. 
46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência. 
47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação. 
48. Deve ensinar-se aos cristãos que, ao conceder perdões, o papa tem mais desejo (assim como tem mais necessidade) de oração devota em seu favor do que do dinheiro que se está pronto a pagar. 
    49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas. 
50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas. 
51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.
52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas. 
53. São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas. 
54. Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela. 
55. A atitude do Papa necessariamente é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias. 
    56. Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo. 
57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam. 
58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior. 
59. S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época. 
    60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem estes tesouros. 
    61. Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos especiais, o poder do papa por si só é suficiente. [7] 
62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus. 
63. Mas este tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos. 
    64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros. 
65. Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas. 
66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens. 
67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa renda. 
68. Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade da cruz. 
69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas. 
70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbidos pelo papa. 
    71. Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas. 
    72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências. 
73. Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências, 
74. muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram fraudar a santa caridade e verdade.
75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura. 
76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados venais no que se refere à sua culpa. 
77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o Papa. 
78. Dizemos contra isto que qualquer papa, mesmo São Pedro, tem maiores graças que essas, a saber, o Evangelho, as virtudes, as graças da administração (ou da cura), etc., como está escrito em I.Coríntios XII. 
    79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insigneamente erguida, equivale à cruz de Cristo. 
    80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes sermões sejam difundidos entre o povo. 
    81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos. 

    82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas –, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante? 
83. Do mesmo modo: Por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?
84. Do mesmo modo: Que nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito? 
    85. Do mesmo modo: Por que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor? 
    86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis? 
87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à plena remissão e participação? 
88. Do mesmo modo: Que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações cem vezes ao dia a qualquer dos fiéis? 
89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências, outrora já concedidas, se são igualmente eficazes? 
    90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes. 
91. Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido. 
    92. Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo “Paz, paz!” sem que haja paz! 
    93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo “Cruz! Cruz!” sem que haja cruz! [8] 
94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno. 
    95. E que confiem entrar no céu antes passando por muitas tribulações do que por meio da confiança da paz. 
M.D.Xvii.     [1517 A.D.]

domingo, 22 de março de 2009

Interessante! As religiões

esse link é interessante. Mostra em poucos segundos um mapa evolutivo das principais religiões do mundo:

http://mapsofwar.com/images/Religion.swf

segunda-feira, 16 de março de 2009

pieta-michelangelo

o casal arnolfini Jan van Eyck- detalhe

Monalisa

o casal arnolfini; Jan Van Eyck

Exercícios - início da Idade Moderna

1) O período situado entre os séculos X e XV da Era Cristã, didaticamente nomeado de "Baixa Idade Média", foi marcado por profundas transformações, que conduziriam à superação das estruturas feudais e à progressiva estruturação da modernidade, esta marcada pela emergência do racionalismo e do método científico. As alternativas a seguir apresentam alguns aspectos dessas modificações, exceto:
a) Um profundo processo de secularização, que contribuirá para um crescente atrelamento da razão à religião e do natural ao sobrenatural.
b) O individualismo emergirá como forma de um novo humanismo, o que se acentuará no século XVIII com a vitória do Iluminismo.
c) As práticas políticas e econômicas, lenta mas progressivamente, vão se libertando da tutela até então exercida pela Metafísica e pela Teologia;
d) Dá-se uma ampliação do espaço físico, do que decorre o conhecimento de novos mundos e povos. 
e) Dá-se a passagem da transcendência à imanência, processo através do qual a verdade revelada cederá lugar à verdade da natureza, com sua própria linguagem e leis;

2) Nos séculos XIV e XV, o Ocidente cristão passou por crises que levaram ao declínio do modelo social, econômico e político então vigente. Sobre esse período, responda as questões a seguir.
a) A que modelo se refere o enunciado acima?
b) Cite quatro características do modelo acima referido..
3) Um príncipe desejoso de conservar-se no poder tem de aprender os meios de não ser bom.
    MAQUIAVEL, N. O Príncipe. In: WEFFORT, Francisco. "Os clássicos da política". São Paulo: Ática, 1993. p.37.

Com Nicolau Maquiavel (1469-1527), constitui-se um novo pensamento político, crítico em relação aos critérios que fundamentavam a legitimidade do príncipe medieval. Explique por que o pensamento político moderno excluiu a bondade como critério legitimador do poder do príncipe.

4) As sociedades européias do século XVI testemunharam importantes fenômenos de ordem religiosa, econômica, política e, em conseqüência dos descobrimentos ultramarinos, global. Considerando tal cenário, responda às questões a seguir:
a) Nessa época, o Ocidente europeu vivenciou a crise do catolicismo e a reanimação do cristianismo. Explique tal afirmação.
b) Indique uma cidade comercial asiática com a qual os portugueses passaram a manter estreitos contatos a partir de então, e explique de que maneira o padrão europeu de consumo de mercadorias orientais contribuía para reafirmar a hierarquia social vigente no Velho Mundo.

5) A CIDADE IDEAL

    Em 1485, uma peste matou quase a metade da população de Milão, na Itália. No final dos anos 1480, Leonardo da Vinci transferiu-se para lá e, entre outros projetos, dedicou-se a planejar a "cidade ideal", tema e preocupação regular do Renascimento. Quase cinco séculos depois, a busca utópica da cidade ideal prosseguia, manifesta em projetos urbanos como o de Brasília.

    "Uma cidade, ou melhor, um lugar, um sítio urbano fixado sobre uma perspectiva que desdobra sobre o olhar o leque simétrico de suas linhas de fuga. A imagem de uma praça deserta, grosseiramente retangular, pavimentada de mármore policrômico, cercada em três de seus lados pela fachada de palácios e de casas burguesas; e um edifício de forma circular, com dois planos superpostos de colunas e uma cobertura cônica, ocupa o centro."
    Sobre "A cidade Ideal de Urbino". Hubert DAMISCH. "L'origine de la perspective". Paris: Flammarion, 1993, p. 192

    "Compara-se [...] Brasília com as duas cidades ideais de Le Corbusier [arquiteto modernista suíço, 1887-1965]. Notem-se as similaridades explícitas entre ambas e Brasília: o cruzamento de vias expressas; as unidades de moradia com aparência e altura uniformes, agrupadas em superquadras residenciais com jardins e dependências coletivas; os prédios administrativos, financeiros e comerciais em torno do cruzamento central; a zona de recreação rodeando a cidade. O 'pedigree' de Brasília é evidente".
    James HOLSTON. "A cidade modernista: uma crítica de Brasília e sua utopia". São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 38

    "(...) o modelo urbanístico de Leonardo da Vinci, um desenho de cidade perfeita, detalhava como deveriam ser as ruas, casas, esgotos, etc. Pelas ruas altas não deveriam andar carros nem outras coisas similares, mas apenas gentis-homens; pelas baixas deveriam andar carros e outras coisas somente para uso e comodidade do povo. De uma casa a outra, deixando a rua baixa no meio, por onde chegam vinho, lenha, etc. Pelas ruas subterrâneas estariam as estrebarias e outras coisas fétidas.
    A cidade descrita por Leonardo já é, de certa forma, utopia: é uma exigência completamente racional que espera ser traduzida na prática."
    Carlos Eduardo Ornelas BERRIEL. "Cidades utópicas do renascimento". 
 
FIGURA 1: Artista desconhecido. Painel "A cidade Ideal de Urbino". Galerie Nationale des Marches. http://www.itis-einstein.roma.it/sforzinda/citta.htm
FIGURA 2: Leonardo da Vinci: esquema de via de circulação e edifícios, em dois níveis, para a cidade ideal (c. 1485). Elke BUCHHOLZ. "Leonardo da Vinci. Vida y Obra". Barcelona: Konemann, 2000, p. 36
FIGURA 3: Brasília. 

A partir dos textos e imagens apresentadas, escreva um texto sobre a idéia de "cidade ideal" no Renascimento e no mundo atual, considerando:

- sua relação com as preocupações humanistas e racionalistas do Renascimento cultural e com as concepções de arte que se afirmaram na época de Leonardo;

- as semelhanças de objetivos do urbanismo renascentista com o urbanismo modernista que resultou na cidade de Brasília, capital brasileira.

6) A doutrina de Copérnico, no século XVI, assinala o rompimento com a concepção de cosmos fechado, que dominou o pensamento ocidental medieval.
... o universo é esférico; em parte porque essa forma, sendo um todo completo e dispensando toda articulação, é a mais perfeita de todas; em parte porque ela constituiu a forma mais espaçosa, que é portanto a mais apropriada a conter e reter todas as coisas; ou também porque todas as partes separadas do mundo, seja o Sol, a Lua e os planetas, afiguram-se esferas.
    COPÉRNICO, N. "De revolutionibus orbium coelestium". Apud KOYRÉ, A. Do Mundo Fechado ao Universo Infinito. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p. 39-40.

a) Explique a principal mudança introduzida pela astronomia copernicana.
b) Explique, no contexto de revolução científica, o posicionamento da Igreja Católica envolvendo o físico Galileu Galilei.



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Eu penso nisso!

Qual o sentido da História se não for para todos?